A Nextel divulgou nas últimas três semanas dois vídeos de sua nova campanha que tem como mote “Acabar com rótulos tá nas suas mãos”. Nas peças, Júnior Lima (irmão de Sandy) e Daniella Cicarelli listam rótulos que receberam ao longo da vida e concluem com a seguinte fala: “Rótulos não vão me definir. Quem me define sou eu”. A ideia, aparentemente, é ressaltar que a marca sofre com classificações superficiais (assim como os artistas que estrelam os comerciais) e que as pessoas deveriam buscar conhecê-la mais profundamente.
Olhando friamente, a campanha é um sucesso. O vídeo com Júnior já bateu 1 milhão de visualizações só no Youtube. O de Cicarelli tinha 760 mil até o fechamento deste texto. Em ambos, os garotos-propaganda citam “rótulos” fortes sobre suas próprias vidas e esse recurso é, sem dúvidas, o principal gatilho para o bom desempenho quantitativo das peças.
Veja abaixo os vídeos:
Agora, fazendo o que a campanha pede, olhemos de maneira mais atenta e detalhada para tudo isso. Primeiro, tratemos do rótulo atribuído à Nextel. A empresa surgiu como uma alternativa um tanto revolucionária para a telefonia móvel, com grande foco no público corporativo. De início, gerou grande furor. No meio da caminhada, no entanto, deu alguns sinais de que havia perdido um pouco o senso de direção, sem saber bem aonde gostaria de chegar. Mudanças na presidência, crise financeira, perda de clientes e queda na qualidade. Especula-se que os atuais acionistas desistiram do negócio e buscam compradores. Para tanto, tentam revalorizar a marca e evitar uma perda maior na transação. Rótulos dizem alguma coisa sobre o conteúdo.
Preste bem atenção: o que está dito acima não é uma crítica à empresa, e sim uma contextualização para chegarmos aos pontos que interessam aqui. A Nextel não é a primeira empresa a passar por dificuldades e, hoje em fase de recuperação, está mais que correta ao buscar um reposicionamento de sua marca. Principalmente num cenário de venda.
Entram na conversa agora duas novas questões: as entrelinhas da mensagem e a escolha dos emissores. Essa campanha, definitivamente, traz subtextos que a tornam bem mais complexa do que parece. A princípio, a mensagem central parece ser: “As pessoas dizem muitas coisas sobre nós, mas não somos bem isso que dizem por aí”. Legal. Vamos combater os rótulos, buscar o que tem além da superfície e acabar com essa injustiça.
Mas o fato é que os vídeos permitem também uma outra leitura, se analisarmos bem a história da Nextel e também dos artistas convidados para estrelas os comerciais. Todos surgiram como grandes promessas, mudaram de rumo no meio de suas caminhadas e hoje não vivem seus melhores momentos. Aqui, podemos interpretar a campanha por dois prismas: 1) Aquele que citamos no parágrafo anterior e parece ser a mensagem oficial, de que a marca e os artistas são injustiçados por classificações superficiais; 2) Que legal: a Nextel reconhece que, assim como Júnior e Cicarelli, prometia ser um sucesso, mas fracassou.
Não é reforço de estereótipos ou julgamento maldoso de Júnior ou Cicarelli. Mas quando falamos em publicidade, lidamos com o imaginário popular, com o que as pessoas acham que sabem, com o que está cristalizado na cabeça delas. E nem sempre uma mensagem de desconstrução descontrói. Pelo contrário, reforça um estigma. Principalmente quando o canal (no caso, a internet) é aberto para que clientes relatem suas experiências reais (e sobraram usuários e ex-usuários da Nextel reclamando do serviço).
Enfim: esta pode ser uma simples viagem de um profissional calejado pela lida diária com campanhas e marcas. Deixe-me saber o que você pensa sobre o assunto. Diga o que acha nos comentários abaixo.
Por: Portal Administradores
This post was published on 29/06/2016 12:12 PM
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