As mensalidades da escola particular estão pesando no orçamento dos uberlandenses e muitos estão com dificuldade de arcar com esse compromisso. A inadimplência nas instituições privadas de ensinos fundamental e médio em Uberlândia aumentou em relação ao ano passado. A elevação variou de 25% a 100% neste ano, se comparada a 2014, nas quatro escolas ouvidas pela reportagem do CORREIO de Uberlândia. Outras duas instituições informaram que registraram aumento da inadimplência, mas não souberam quantificar.
No colégio onde André Domingues é administrador, o aumento da quantidade de mensalidades atrasadas foi de 44,5% em relação ao ano anterior. Segundo ele, 4,5% dos alunos ficaram inadimplentes em 2014 e, atualmente, esse índice está em 6,5%. “Estamos realizando ações para diminuir esse número, mas o segundo semestre não é otimista. Com esse cenário econômico de inflação e desemprego aumentando e juros altos, pode ser que cresça o número de pessoas com parcelas em atraso”, afirmou Domingues.
Em 2014, a inadimplência de outra instituição ficou em 15% dos alunos. Neste ano, já está em 30%. “À medida que vai chegando o fim do ano, vai aumentando. Adotamos um novo sistema de cobrança por meio de callcenter, negociando, parcelando e diminuindo os juros e multas. Ainda assim, esperamos que o ano feche em 25% de inadimplentes”, disse o analista financeiro Thiago Antônio Soares de Lima.
Já uma terceira escola registrou o aumento de 46,8% no número de alunos com parcelas atrasadas. Enquanto no primeiro semestre do ano passado 7,9% dos alunos estavam inadimplentes, durante os seis primeiros meses de 2015, foram 11,6%. De acordo com o diretor da instituição, Luciano Aguiar, sempre que o País está em crise a escola particular sente o impacto.
“O menor movimento nas indústrias e no comércio acaba afetando os pais, que começam atrasar algumas contas e o colégio é uma delas. Apesar da perspectiva para o segundo semestre ser ruim de maneira geral, temos uma visão otimista e esperamos que essa situação melhore. O brasileiro é muito batalhador, se não está dando de um jeito, ele tenta de outro até conseguir.”
Inadimplência pode prejudicar indiretamente qualidade da educação
Apesar de o índice de inadimplência, neste ano, estar abaixo dos 5% da quantidade de alunos matriculados, a quantidade de alunos com prestações atrasadas em uma escola particular de Uberlândia aumentou 25%, segundo o diretor da instituição, Jean Silveira. “Ano passado, conseguimos um índice histórico de baixa inadimplência por conta do controle que fizemos. Mas vem apresentando uma tendência forte de subir. Aumenta em maio e junho e, em julho, é o pico porque alguns trocam as parcelas por despesas de viagem de férias. Já em outubro é época de abaixar por ser período de renovação e se estiver inadimplente nós não aceitamos que renove a matrícula”, disse.
Segundo ele, o controle na instituição é rigoroso porque a alta inadimplência afeta indiretamente a qualidade do ensino. “A escola privada faz seu planejamento contando com a única fonte de renda, que é a mensalidade. Quando atinge índices muito altos de atrasos, os primeiros cortes de despesas são nos novos investimentos, novidades tecnológicas e reformas. Depois, começa a enxugar a área administrativa. O salário dos professores representa até 70% das despesas e tem muitas escolas com alta inadimplência que acaba cortando professores de excelente qualidade”, afirmou Silveira.
Estudantes têm direitos garantidos
Conforme com o Código de Defesa do Consumidor (CDC), a educação do aluno não pode ficar comprometida se houver atrasos nas mensalidades que devem ser pagas à escola. Segundo Frank Resende, que está à frente da Superintendência de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon) de Uberlândia, em caso de inadimplência, a única negação que a escola pode fazer é na renovação da matrícula.
“A educação não é uma mercadoria qualquer. A função social da educação tem que ser priorizada. A dívida não pode ser misturada com a vida acadêmica do aluno. Se existe um débito da parcela, não pode ser causa de impedimento de o estudante assistir aulas, nem de fazer provas e de obter transferência. O que pode ser feito é, na próxima contratação, a escola negar a renovar o contrato”, afirmou Resende.
De acordo com ele, podem ser feitas negociações da dívida cujas condições variam conforme a instituição, já que não existem regras para isso.