Amigos, familiares e moradores de Montes Claros se juntaram em uma grande corrente para rezar pela recuperação dos feridos, em frente à Santa Casa. É com essa fé que a dona de casa Adelaide Sena De Jesus Barbosa de Sá, de 39 anos, espera que um milagre salve seu sobrinho, de cinco anos. A situação do pequeno é grave, ele ainda não responde às medicações.
O menino sofreu muitas queimaduras porque chegou a ser “abraçado” pelo agressor em chamas. “Ele se pendurou na grade pedindo socorro, o vizinho conseguiu tirar ele. Se não fosse isso, ele não estaria aqui”, acredita Adelaide. Os vizinhos entraram no local após arrombar o portão da escola.
Nesta quinta-feira, o pequeno Mateus não acordou com vontade de ir para à escola. A mãe insistiu e ele se lembrou que a comemoração do dia das crianças envolveria várias atrações e resolveu comparecer. “Se esse homem estava doente, ele precisava pedir ajuda. Ele viu as crianças crescerem”, se revolta Adelaide.
Vigia tinha mania de perseguição e surto psicótico não é descartado
O delegado regional de Janaúba, Bruno Fernandes Barbosa, disse que, mesmo com as investigações mostrando que o crime foi premeditado, não descarta a possibilidade de Damião Soares dos Santos, 50, ter tido um surto psicótico nesta quinta-feira (5).
Barbosa contou que o vigilante tinha psicopatia e vinha apresentando um comportamento estranho nos últimos tempos. “Segundo familiares do vigilante, desde 2014 ele vinha apresentando comportamento estranho. Ele saiu da casa dos pais falando que a mãe queria envenená-lo. Ele tinha mania de perseguição”, disse.
A declaração do delegado pode ser constatada em publicações feitas por Santos em seu perfil no Facebook. Somente na última segunda-feira (2), o homem fez três publicações sobre envenenamento. “As padarias e restaurantes estão se vingando. Coloca grades nas portas e veneno nas comidas daqueles que eles acham ser bandido. Que país é esse?”, dizia um dos posts do vigia.
Cerca de uma hora antes do post, ele havia dito que os homens estariam com barrigas grandes e doentes do fígado, perguntando se isso seria decorrente dos venenos escondidos na comida. Em outra publicação, Santos diz que haviam pessoas dando remédio escondido aos padres para que eles ficassem com depressão.
Ainda segundo o delegado, Santos era um homem calado e, no trabalho, não apresentou problemas. “A diretora da creche disse que ele era calmo, tranquilo, vigiava o patrimônio à noite, não faltava do serviço, não havia reclamações sobre ele”, disse.
Armadilha
No momento em que o vigia entrou na creche, ele estava com um pote de sorvete cheio de gasolina. “Quando ele entrou na sala de aula, avisou que daria sorvete para as crianças, tirou o pote de sorvete, as crianças se aproximaram, mas era gasolina que estava dentro do pote. Foi aí que ele jogou o combustível nas crianças”, contou Barbosa.
O delegado disse que Damião começou a fazer um curso de assistência social na Unopar à distância, mas parou logo no começo. “Na casa, encontramos redações feitas por ele, falando do Estatuto da Criança e do Adolescente, textos aleatórios sobre infância e um CD com fotos de crianças brincando, tomando sorvete”, disse.
Segundo a Polícia Civil, depois que se mudou da casa dos pais, o homem começou a fabricar sorvetes e picolés e começou a vender na parte da manhã. “Ele era conhecido por vender e até dava sorvete e picolés para qualquer criança que via nas ruas”, disse.