Sérgio Moro: a Justiça é apenas para os inimigos

O juiz, eleito o herói em determinado momento da história do Brasil, demonstrou claramente que sua atuação tinha um alvo — Lula. O ex-juiz, agora eleito senador pelo Paraná, reaproximou de Jair Bolsonaro (PL), mirando uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF).

Central de Jornalismo

Artigo de opinião | Por Paulo Braga – jornalista.

Paulo Braga

Brasil. O ex-juiz Sérgio Moro, 50, surpreendeu o país mais uma vez, ao se reaproximar de Jair Bolsonaro (PL) no debate da TV Bandeirantes no domingo (17.out.22). 

A ação de Moro chama a atenção pela forma bélica que saiu do governo Bolsonaro, após passagem pelo Ministério da Justiça. Na ocasião de sua saída, 24.abr.20, o ex-juiz acusou Bolsonaro de interferência na Polícia Federal.

Sérgio Moro, ainda com um titânico capital moral, aceitou deixar a magistratura para assumir o Ministério da Justiça no governo do recém-eleito Jair Bolsonaro. Ao aceitar o convite, Moro legitimou as falas dos integrantes e simpáticos ao Partidos dos Trabalhadores (PT), que sempre afirmaram que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva havia sido preso sem provas. 

O incontestável é que os atos do juiz, que agiu de forma parcial, retiraram Lula da eleição de 2018, onde o petista tinha grandes chances de ser eleito. Lula, mesmo ciente das nulidades que estavam sendo produzidas pela Operação Lava-jato, coordenada nos bastidores por Sérgio Moro, cumpriu a Lei e ficou preso por 580 dias. A prisão do ex-presidente ocorreu no dia 07 de abril de 2018.

O Brasil e sua busca eterna por um herói 

Sérgio Moro — a decepção do Brasil

Graduado em direito pela Universidade Estadual de Maringá em 1995, concluiu o mestrado e o doutorado pela UFPR, onde lecionou direito processual penal. 

Ao se envaidecer com a cobertura midiática, sem apuração, sensacionalista e parcial da grande mídia brasileira, os brasileiros acionaram sua busca por mais um herói. Bonecos gigantes, alcunha de “Super Moro”, e narrativas apaixonadas tomaram conta do sentimento da nação. 

Getúlio Vargas, o Governo Militar, Fernando Collor e Aécio Neves foram exemplos fracassados e vergonhosos de heróis brasileiros. A história, a mãe educadora do aprendizado, foi deixada de lado mais uma vez. 

O Brasil estava diante de um indigno herói juiz, que usava a Justiça ao seu bel-prazer. O caso pode ser comparado à Operação Mãos Limpas, realizada na Itália em 1992, que deixou um legado negativo.

Responsável pela Operação Lava Jato na 13ª Vara Federal de Curitiba (PR), o juiz Sérgio Moro divulgou ilegalmente áudios entre a então presidente Dilma Rousseff e Lula.

A divulgação, por envolver a Presidência da República, é considerada ilegal e mereceu reprimenda do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki, morto janeiro de 2017, a Sérgio Moro, que pediu “escusas” ao STF alegando procurado “dar publicidade ao processo e especialmente a condutas relevantes do ponto de vista jurídico e criminal do investigado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva” – naquela ocasião, Dilma foi acusada de blindar Lula como foro privilegiado, de forma a evitar sua prisão. Mas a própria gravação de parte dos áudios foi operada irregularmente, uma vez que a Polícia Federal executou a interceptação telefônica depois de ordem de Moro para interromper grampos.

Mas o legado do falso moralista não durou muito, sendo o juiz o próprio algoz. Nem o Partido dos Trabalhadores foi tão eficaz.

Sérgio Moro, juiz que retirou Lula da disputa eleitoral, aceitou ser ministro do principal beneficiário de suas ações — Bolsonaro.

Como ministro, um dos destaques de Moro foi o “pacote anticrimes”, focado no endurecimento da legislação penal.

No primeiro ano como ministro, Moro também voltou a encarar acusações de parcialidade em seus julgamentos como juiz após vazamentos revelados pelo portal The Intercept Brasil indicarem que ele e procuradores da Lava Jato trocavam mensagens sobre o processo.

Moro sempre negou irregularidades nos contatos e afirmou ter sido vítima de um ataque hacker, que passou a ser investigado pela Polícia Federal.

Tentou sair com alguma dignidade do governo Bolsonaro.

“[Bolsonaro quer uma pessoa para a qual] pudesse ligar, colher informações, que pudesse colher relatórios de inteligência, seja o diretor-geral, seja o superintendente, e realmente não é o papel da PF prestar esse tipo de informações”, declarou Moro na época.

Saiu do Ministério da Justiça com um capital moral e político insignificante. Chegou a ser alvo do gabinete do ódio do governo.

Sua pequenez foi refletida na sua tentativa de ser candidato a presidente nas eleições de 2022. Não conseguiu. Se candidatou ao Senado, sendo eleito pelo Paraná com 1.953.159 votos.

Ataque hacker mostrou imoralidade de Moro

Sérgio Moro  e o procurador Deltan Dallagnol trocaram mensagens de texto que revelam que Moro pode ter extrapolado suas competências legais na Lava Jato. As informações são do site The Intercept Brasil.

O site afirma que as publicações são ‘bombásticas’ e que há ‘discussões internas e atitudes altamente controversas, politizadas e legalmente duvidosas da força-tarefa da Lava Jato’.

Segundo o site, o juiz Sérgio Moro teria sugerido ao procurador que trocasse a ordem de fases da Lava Jato. Ainda segundo o The Intercept Brasil, Moro cobrou agilidade em novas operações, deu conselhos estratégicos e pistas informais de investigação.

As conversas foram transcritas e não mostram as capturas de telas das conversas. Moro teria antecipado ao menos uma decisão, criticou e sugeriu recursos ao Ministério Público. O The Intercept Brasil, afirma que recebeu as informações de uma fonte anônima.

“Talvez fosse o caso de inverter a ordem da duas planejadas”, sugeriu Moro a Dallagnol, falando sobre fases da investigação. “Não é muito tempo sem operação?”, questionou o atual ministro da Justiça de Jair Bolsonaro após um mês sem que a força-tarefa fosse às ruas. “Não pode cometer esse tipo de erro agora”, repreendeu, se referindo ao que considerou uma falha da Polícia Federal. “Aparentemente a pessoa estaria disposta a prestar a informação. Estou entao repassando. A fonte é seria”, sugeriu, indicando um caminho para a investigação. “Deveríamos rebater oficialmente?”, perguntou, no plural, em resposta a ataques do Partido dos Trabalhadores contra a Lava Jato.

Se Lula é seu inimigo, você é meu amigo

Durante o período eleitoral de 2022, acenou ao governo Bolsonaro com o objetivo de não ficar isolado politicamente.

Ciro Gomes (PDT), sempre manteve um discurso firme e coerente com relação às nulidades de Sérgio Moro na Operação Lava-Jato. Ciro chegou a dizer que receberia o Juiz à bala.

Nas eleições de 2022, Ciro Gomes radicalizou contra o Partido dos Trabalhadores, e seu alvo foi Lula. Quando a campanha petista Lula pediu o ‘voto útil’ no primeiro turno, objetivando a migração dos votos de eleitores de Ciro e Simone Tebet (PMDB), o ex-juiz criticou campanha de Lula.

No debate da TV Bandeirantes no dia 17.out.22, Sérgio Moro apareceu nos bastidores orientando Jair Bolsonaro. Isso mesmo, um ex-juiz, que julgou e condenou  Lula sem provas no passado, estava passando informações ao atual presidente. 

A estratégia de Sérgio Moro, o ex-herói da mídia sensacionalista brasileira, mostra suas garras na busca de uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF). Esse seria um tributo a ser pago por Bolsonaro, em caso de vitória.

Bolsonaro chegou a dizer que quer aumentar o número de ministros no SFT. A declaração gerou reação em todas as esferas da política.

O chefe do Executivo, que tenta a reeleição, alimenta uma relação conflituosa com o Judiciário desde que assumiu o mandato. Além de acusar o STF de agir com ativismo, defendeu publicamente o aumento de ministros, de 11 para 16.

Bolsonaro, como de hábito, disse que tudo era invenção da mídia. O que é falso.

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