O atraso no envio de vacinas pelo Ministério da Saúde e a má distribuição de doses pela Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) tem gerado preocupação das pessoas que precisam dos imunizantes para se protegerem da Covid-19. Em Betim, segundo dados da prefeitura, mais de 9.000 pessoas dos primeiros grupos prioritários ainda estão aguardando serem vacinados, seja com a primeira ou a segunda dose.
Só de idosos acima de 65 anos são pelo menos 5.664 pessoas que já deveriam ter tomado a segunda dose da Coronavac, produzida pelo Instituto Butantan e cuja produção está parada por falta de insumos. Além disso, para se ter uma ideia, das 309.600 doses de Coronavac distribuídas pelo Estado nas últimas duas remessas, apenas 4.120 vieram para Betim, o equivalente 1,3%.
Com isso, muitos idosos estão à espera para completar o ciclo vacinal. O aposentado Jair Leite, de 66 anos, é um deles. “Ele tomou a primeira dose em 13 abril e estava marcado para o dia 11 de maio a segunda, mas não conseguiu. Acho uma situação complicada, porque estão chegando poucas doses”, disse a gerente de qualidade Jaqueline Leite, filha de Jair.
A aposentada Odaísa Rinaldi, também de 66 anos, também está à espera da Coronavac para completar a imunização. “Ligo no posto todos os dias para saber se chegou. Sou diabética e estou aguardando a segunda dose para poder tomar a vacina da gripe também”, contou.
Além dos idosos que esperam a segunda dose, há os profissionais de saúde e das forças de segurança que ainda aguardam a primeira aplicação. São cerca de 2.500 trabalhadores da saúde que estão cadastrados à espera do envio de vacinas, além de 1.300 agentes das forças de segurança.
“O município realizada a vacinação conforme orientações da Secretaria de Estado de Saúde, que estipula os grupos contemplados. Fizemos o avanço para vacinar pessoas com comorbidades com menos de 59 anos, mas há grupos em que a imunização ainda não está completa (com as duas doses). Estamos muitos consternados com essa situação, até porque, não depende do município, mas, sim, do Ministério da Saúde e do governo do Estado”, salientou o secretário municipal de Saúde, Augusto Viana.
Após o município reclamar da má distribuição de vacinas, o governo do Estado anunciou que a vacina da Pfizer, que até então era enviada apenas para a capital, será destinada a Betim. Ainda não se sabe a quantidade de doses, que chegarão na segunda (24).
“Vamos recebê-las descongeladas e aplicaremos em até cinco dias todas as doses. Entendemos que isso é uma vitória dos municípios que reclamaram dos critérios de distribuição de doses pelo Estado, que está bem desigual. Até então, apenas as capitais estavam recebendo esse imunizante”, completou Viana.
Preocupação com mortalidade
Enquanto o país vive o fantasma de uma possível terceira onda de Covid-19, prefeitos e secretários de Saúde de municípios clamam por um quantitativo maior de vacinas para salvar vidas. Em várias cidades, não chegaram doses suficientes para imunizar idosos e profissionais de saúde, impossibilitando um maior avanço no processo.
E o ciclo vacinal completo é uma das formas de reduzir a mortalidade pela Covid. Segundo o secretário Augusto Viana, em janeiro deste ano, 33% dos óbitos em Betim eram idosos com 80 anos ou mais.
“Já em abril, as mortes nessa faixa etária representaram 12% do total. Ou seja, proporcionalmente, houve uma redução de 64% em mortes de pessoas acima de 80 anos no município. Claro que precisamos de outros dados, mas a vacinação pode ser uma das ações que influenciaram nisso. Até porque os idosos de 80 anos tiveram seu ciclo vacinal completo, com as duas doses”, enfatizou Viana.
E há urgência na vacinação. Um estudo feito por pesquisadores norte-americanos publicado pelo “The Journal of Infectious Diseases”, indica que é fundamental elevar a cobertura vacinal antes do período de outono e inverno.
A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) informa que o quantitativo de doses de vacinas contra a Covid-19 enviado a cada município é estabelecido pelo Programa Nacional de Imunização (PNI), coordenação competente dentro do Ministério da Saúde, a quem é atribuída também a definição dos grupos prioritários para cada etapa da vacinação. A pasta afirma ainda que a distribuição de doses leva em conta dados alimentados pelos gestores municipais nos respectivos sistemas de informações.