Durante seis anos e meio, a aposentada Senir Souza Pinheiro, 77, alimentou a esperança de encontrar a filha viva até a ossada da funcionária pública federal Elizabeth Souza Pinheiro ser localizada na mata da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde trabalhava. Elizabeth desapareceu no dia 10 de março de 1999, aos 38 anos, cinco dias após Carla Emanuelle.
“Enterrar minha filha trouxe um pouco de alívio. A procura por ela teve um fim. Eu sonhava mil coisas. Achar a ossada acalmou a gente, mas fica aquela angústia de não saber o que aconteceu com minha filha. Não sei o que ela passou, se sofreu muito antes de morrer, quem a matou”, lamenta a mãe, com os olhos marejados.
Elizabeth deixou um filho com 15 anos, que, hoje, aos 34, recusa-se a comentar o caso para não sofrer tanto. “Uma ferida que nunca se fecha. Quanto mais você mexe, mais ela sangra. Mas, se Deus permitir, um dia a gente ainda vai saber o que ocorreu com minha Beth”, diz a aposentada.
Ela se solidariza com a dor de muitas outras mães e filhos que ainda vivem um eterno luto, sem terem um corpo para velar e tentar recomeçar a vida. “Ainda vivo me perguntando o que aconteceu com minha Beth. Era uma menina boa, boa filha, boa mãe, boa irmã. Por que isso, meu Deus?”, questiona Senir, sem conseguir conter as lágrimas.
“Eu creio que, de alguma forma, Beth está olhando a gente. Meu neto não é muito de falar, mas já me contou que sentiu mãos sobre ele e que ele não estava dormindo. Eu disse: ‘Meu filho, seja sua mãe, seja um anjo, seja quem for, ela está te protegendo. Mas, no meu coração, é sua mãe mesmo!’”, comenta a avó.
Para a contadora Magmar Neiva Vieira, 64, a sensação é de impotência por não saber o que aconteceu com a filha, Luciana Neiva de Carvalho Dilly, que desapareceu em 16 de fevereiro de 1999, aos 20 anos. Ela sumiu após sair do trabalho, em um supermercado dentro do Shopping Del Rey, e seu corpo foi encontrado cinco dias depois, perto dali.
“Ficou a incerteza, a dúvida, ficou tudo. Nada de nada”, diz a mãe. “Até arquivaram o caso. Falaram que não têm novidade, que não têm fato novo, que não têm como mexer, como olhar. Não temos resposta nenhuma. Nem suspeita, nem nada”, lamenta.
Investigação prejudicada sem DNA
O chefe do Departamento de Investigações (DI) da Polícia Civil na época, o delegado Edson Moreira, hoje deputado federal, acredita que muitos crimes poderiam ter sido esclarecidos com a prisão do principal suspeito de ser o “maníaco do shopping”, Leandro Ferreira de Carvalho.
“Não conseguimos capturar o Leco, que está foragido até hoje. Mandamos equipes de policiais a Curitiba e ao Rio de Janeiro, mas não conseguimos achá-lo”, diz Moreira.
De acordo com o delegado, na época a Polícia Civil não trabalhava com exames de DNA, o que dificultou a investigação. “A gente percebe algumas particularidades que não levam a um maníaco, mas crimes idealizados por pessoas que aproveitaram o momento. Houve até uma conversa de que o Trigueiro, o maníaco de Contagem, de 2009, andou por aquelas bandas. Havia muita semelhança entre os dois casos. Se a Criminalística tivesse DNA em 1999, com certeza mais crimes seriam esclarecidos”, afirma Moreira.
A Polícia Civil de Minas foi questionada sobre o andamento das investigações de 17 desaparecimentos e mortes atribuídos ao “maníaco do shopping” na época. A corporação respondeu apenas que 11 casos foram relatados à Justiça e que cinco continuam sendo investigados, sem fornecer mais esclarecimentos.
Vazio no Natal
Nesta época do ano, as lembranças se tornam ainda mais dolorosas para os parentes das vítimas. Há 18 anos, o Natal deixou de ser comemorado pela família de Carla Emanuelle. “Não comemoramos desde que ela sumiu. Mudou muita coisa em nossa família. Se as crianças vão brincar na rua, vão com um ou dois adultos”, conta a tia, Roberta Silva, 36.
FOTO: Leo Fontes |
Roberta diz que não comemora Natal desde que Carla desapareceu |