Ovos a quase R$ 30, limão a R$ 10 o quilo e mamões sendo jogados no lixo. Embora alguns caminhões carregados de mercadorias já estejam saindo do Ceasa Minas e indo direto para mercados e sacolões de Contagem, na região metropolitana, comerciantes ainda sentem o peso da falta de desabastecimento provocada pela greve dos caminhoneiros, que já dura dez dias. População, contudo, tem evitado comprar o que antes era básico.
Em um sacolão no bairro Inconfidentes, o preço do limão assustou compradores, que evitaram levar o produto. “Eu nunca vi nada parecido. Um quilo de limão por quase R$ 10. Eu entendo que a crise esteja aumentando os preços, mas acho que o pessoal está perdendo os limites. Os lugares que sempre foram mais baratos estão com preços exorbitantes. Eu sou a favor da greve, mas quero que acabe logo”, afirmou a dona de casa Lindsey Santos, 38.
O gerente do sacolão onde a dona de casa comprou o limão, Giovanni Tavares, 37, ponderou que mercadorias não estão chegando mas que estabelecimento tem evitado pesar o bolso do consumidor. “A gente tem sofrido com relação ao abastecimento e, enquanto não se normalizar, também não se normaliza a comercialização. Acaba sendo aquela máxima da mão do mercado. A gente compra em uma ponta mais caro e, infelizmente, nem sempre consegue segurar o preço ainda mais baixo, mas, mesmo assim, temos conseguido operar com os preços bem em conta. Como um cidadão otimista, eu espero que o governo encontre uma solução para que a gente consiga trabalhar”, afirmou.
No Mercado Central da cidade, vendedores de frutas e verduras tentam lidar com a alta do preço das mercadorias de forma a não espantar o cliente. Para o aposentado Antônio Hipólito, 75, entretanto, tem sido cada vez mais difícil manter a geladeira abastecida. “Essa greve pode ter ajudado em uma coisa, mas atrapalhou muito o pobre. O pobre está pagando com consequências de coisas que não devia. Não está tendo condições de comprar. Falta muita coisa e o que tem está caro. Eu acho que se continuar vai ficar pior e não vai ter condição”, afirmou.
Em um açougue do bairro Inconfidentes, apenas carne embalada à vácuo está sendo comercializada. Carne de segunda não está disponível neste modelo, o que tem feito com que clientes que antes pagavam menos pelo produto precisem desembolsar mais dinheiro. O estabelecimento, contudo, tem sofrido o peso da crise de combustível devido à paralisação dos restaurantes, que são os maiores consumidores. “Eu só estou comprando ainda porque minha avó faz muita questão de ter carne na mesa. Se não fosse ela, ninguém comia. Eu acho um desaforo ter que pagar tão caro por coisas que a gente sabe que custam menos. Tem sido bem difícil nesse sentido e, se não resolver logo, vamos ter que tirar essas coisas do cardápio radicalmente”, afirmou o motorista Lucas Igor da Cruz, 22.
Embora mercadorias estejam chegando em pequenas quantidades aos estabelecimentos alimentícios de Contagem, comerciantes ainda sofrem com prateleiras vazias e compras reduzidas. “Tem um pouquinho de mercadoria que já vai acabando. Eu não tenho mamão. Laranja, batata, tomate, cenoura e beterraba estão muito caros. Nós estamos tentando manter o preço ainda mas não está tendo condições. Algumas coisas estamos tentando manter, mas está ficando muito difícil. Tenho clientes que não estão tendo condições de abrir restaurante e tudo o mais, então o nosso movimento e a venda caíram demais”, afirmou a gerente de um sacolão Raquel Ilma Mariana, 44.
Já em uma padaria da mesma região, abastecimento permanece normal, uma vez que produtores do interior têm conseguido mandar produtos de laticínio e panificação por meio de carros normais. “Eu não posso contar exatamente quem tem mandado e de onde tem vindo, mas temos um fornecedor que tem vindo de carro do interior para trazer tudo. Então para nós não tem afetado tanto. O bom é que os nossos compradores estão cientes da produção normal e sabem que temos mantido o preço, o que tem ajudado bastante e tem até aumentado o preço”, afirmou a proprietária do estabelecimento, que pediu para não ser identificada.